Continuando nossa série de artigos sobre onde é melhor investir em tempos de crise, hoje vamos falar um pouco sobre investimentos em renda fixa no Brasil e 2 motivos que podem estar fazendo com que seu patrimônio esteja sendo corroído, a invés de valorizar, neste tipo de investimento.
Ao aplicar em fundos de renda fixa no Brasil imaginamos que o dinheiro ficará em uma aplicação segura, longe da volatilidade do mercado de renda variável e, mesmo com um valorização mais tímida, o patrimônio estará sempre valorizando.
Isso nem sempre é verdade! Seu patrimônio pode estar sendo corroído e você não sabe. Por que?
São dois os principais motivos. O primeiro deles é que muitos fundos, apesar de apresentarem rendimentos positivos em seus relatórios, estão, na verdade, tendo rendimentos negativos. Continue lendo para entender.
1º Fator – Rendimento negativo: O que é e como isso pode acontecer em fundos de renda fixa
Você sabia que em dezembro de 2019 os fundos de renda fixa amargaram considerável rendimento negativo para seus cotistas no Brasil. Se você tinha aplicações em renda fixa neste período, perdeu patrimônio, apesar de imaginar ter tido ganhos.
Isso porque a inflação registrada em dezembro de 2019 no Brasil foi de 1,15%, enquanto que o rendimento dos títulos e fundos de renda fixa, foi de 0,40 e 0,50% bruto ao mês, antes do desconto de imposto de renda.
No relatório de rendimentos aparece, portanto, uma valorização de 0,40 – 050%, o que nos dá a sensação de ganho. Contudo, este rendimento foi totalmente engolido pela inflação no período, que ainda trouxe rendimentos negativos.
Atual cenário aumenta riscos de rendimento negativo
No Relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (6), a inflação projetada para 2020 está em 2,72%. Na última reunião do Copom a taxa básica de juros foi reduzida para 3,75% aa, sendo que analistas esperam um novo corte na próxima reunião, para 3,5% aa. Caso a previsão se confirme, estamos falando de um rendimento real projetado (descontando a inflação) de apenas 0,78% ao ano (3,5% – 2,72%).
Em um cenário onde a taxa básica de juros é praticamente igual à inflação projetada, os riscos de rendimento negativo em fundos de renda fixa são potencializados, já que qualquer mudança brusca no mercado pode jogar a inflação para cima das projeções no período.
Inflação oficial X Inflação Real
Existe um outro agravante para investimentos em fundos de renda fixa: A inflação real pode ser diferente daquela divulgada oficialmente pelo governo.
O Relatório Focus Bacen projeta uma inflação oficial de 2,72% para 2020, conforme mencionamos. Porém este percentual não passa de um cálculo, um indicador. Como qualquer cálculo, não reflete 100% a realidade. É perfeitamente possível que a inflação real seja maior do que a oficial, aumentando as chances de rendimento negativo para além das previstas. Considere ainda que é de interesse do governo divulgar indicadores de inflação baixos. Existem agências independentes de mercado que medem os indicadores macroeconômicos paralelamente à equipe do governo e quase sempre os números são diferentes.
2º Fator – Desvalorização do patrimônio em dólar
Além do rendimento negativo, aplicar em renda fixa no Brasil traz um outro risco: desvalorização do patrimônio em dólar.
O Real perdeu mais de 300% de seu valor frente ao dólar desde 2010. Significa que quem aplicou na moeda americana mais do que triplicou seu patrimônio. A moeda estava cotada a $ 1,70 em 2010 e hoje está R$ 5,29.
Mesmo que os fundos de renda fixa retornem valorização real para o investimento, o ganho é muito reduzido e o risco de ver o patrimônio perder valor frente à moedas de economias sólidas, como a americana e a Zona do Euro, é grande.
É fundamental que o seu patrimônio esteja atrelado à uma moeda forte, já que o seu poder de compra também está relacionado à estas economias, mesmo que você more no Brasil. Real fraco impacta nos planos de viagens em família, no preço de artigos importados e reflete diretamente na política macroeconômica.
Aplicações em renda fixa no Brasil não trazem essa relação com uma moeda forte, conferindo ao investimento um risco de perda patrimonial em dólar muito alto.
Mas afinal, aplicar em renda fixa é um bom investimento?
Aplicar em renda fixa configura mais uma proteção ao patrimônio do que propriamente um bom investimento, já que o retorno, considerando atuais juros do Brasil, é muito baixo. O investimento passa a ser não recomendado em cenários onde o risco de rendimento negativo é alto.
Em situações de crise inéditas, como esta que estamos vivenciando do COVID-19, a Renda Fixa desempenha um papel importante como reserva de emergência. Mesmo com risco de rendimento negativo é importante mantê-la, pois não deixa de ser um “dinheiro no colchão” para imprevistos.
Nossa recomendação neste momento é não mexer muito em suas aplicações já existentes de Renda Fixa, mesmo com cenário de rendimento negativo. A situação atual é imprevisível e é sempre bom deixar um dinheiro guardado. Caso queira investir e aproveitar oportunidades em outros mercados, como a Bolsa de Valores, que caiu muito, sugerimos investir somente o excedente e, mesmo assim, devagar e com muita cautela.
Alternativas aos fundos de renda fixa
Uma forma de obter renda fixa com um determinado investimento, sem correr o risco de ver seu patrimônio ser corroído pela inflação, é investir em um bem tangível, que também gere renda. Um bem tangível acompanha o valor de mercado, que já embute a inflação real. A inflação, na composição de preço de um bem tangível, não é medida por um indicador e sim pelo mercado.
Contudo, você deve tomar cuidado para escolher o bem que aplicará. Comprar um carro, por exemplo, não pode ser considerado um bom investimento, já que o veículo deprecia com o tempo. Apesar de seu valor ser corrigido pela inflação, a desvalorização do bem é muito maior.
Por isso o investimento em imóveis sempre foi uma das aplicações mais conservadoras e, ao mesmo tempo, rentáveis do mercado.
O imóvel não deprecia e só tende a valorizar. Ao mesmo tempo acompanha a inflação, por ser um bem tangível.
Além disso o imóvel pode gerar renda de aluguel. Uma renda vitalicia, semelhante à renda fixa.
Considere investir no exterior, em uma economia sólida, como a americana. Desta forma, você terá seu investimento atrelado ao dólar e corrigido pela inflação. Você ainda pode alugar seu imóvel no exterior e a renda obtida também estará protegida do risco cambial.